segunda-feira, 16 de maio de 2011

Morte

Fico imaginando como ele seria hoje em dia, se a morte não o tivesse levado. Estaria talvez sentado em sua poltrona, fumando seu cigarro e ouvindo Mozart. Acho que Mozart era o seu ponto de contato com o supremo, com o transcendente. Ele era um homem além das situações, acima do óbvio.
Mas ele se foi e a poltrona também já não está naquela sala que não pertence mais a nenhuma pessoa que o conheceu. Só permanece tão vivo assim aqui dentro de mim, o meu pai carismático, controverso, audacioso e bom. E permanece tão vivo, que não acredito na sua morte. Como pode ter morrido, se tanta coisa ainda teria para viver. Ele não viu o neto tocar piano, logo aquele neto por quem ele demonstrava tanto afeto. O neto que ele adivinhou, enquanto todos diziam que seria uma menina. Ele já o sabia, bem antes do nascimento. Era um menino e além de tudo: um menino pianista, compositor, apaixonado e transparente.
A morte é vil e só pode ser coisa do demônio. Ela deixa sempre esse vazio, essa interrogação. Nós falamos coisas absurdas e banais sobre as pessoas que se foram, só para tentar entender. O fato é que morremos e morreremos todos. Só não entendo por que temos que nascer se é para deixar tanta vida por viver.

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