segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Retirante



Estranho, mas eu tenho esse sertão dentro de mim. Todo aquele chão seco, o céu todo azul de pouquíssimas chuvas.
Tenho a lembrança do sabor simples da pouca comida, quase nada; o som dos calangos correndo pela terra esturricada e o estalido do mato seco. Tenho paixão pelo imponente mandacaru e um enorme afeto pelos homens rudes, de chapéu roto e poucas palavras.
Nascem as crianças que  brincam com quase nada, comem quase nada,  falam pouco, numa língua quase incompreensível, estranha para nós que somos fartos de tudo.
Eu sou uma degredada e nunca estive na terra que me abandonou. Sou a retirante eterna, deslocada em tamanha abundância, sem filhos, sem chão, com excesso de umidade, o coração opresso e a alma em vão. 

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