Rubra entre
folhas verdes e espinhos, nasci rosa. Desabrochei na manhã fria, brilhei ao
sol.
Eu nasci
rosa porque escolhi assim, ou assim foi determinado? Por Deus ou pelo acaso? O
que importa isso agora, se já estou aqui, rosa, nesta manhã fria, brilhando ao
sol?
E nasci para
quê?
Passa por
mim a criança e não me nota. Passa o velho e me observa, admira e vai embora.
Vem o moço enamorado e imagina que eu agradaria a sua amada. Tenta em vão me
pegar, mas não alcança o galho.
Da sacada o
observa a mulher madura. Compreende a intenção do moço e oferece-me. Bem sabe
ela que é pra outra, certamente mais jovem. Mas eu estou ao alcance das mãos da
mulher e a roseira lhe pertence, como parte do seu jardim.
Ela vai para
dentro e volta com a tesoura. Corta meu galho, retira os espinhos e me entrega
ao jovem. Lá vou eu, sem dor alguma. Somente a roseira sentiu o corte. Mas nada
disse.
O jovem
caminha apressado e para diante de uma casa, toca a campainha e aguarda.
Aparece a moça e recebe-me das mãos do namorado. Ela procura meu perfume e
sorri para ele. Beija-lhe a face e diz palavras gentis.
Seguem os
dois abraçados e eu os acompanho, levada pela mão da jovem. Meu passeio não é
tranquilo. Ela corre, rodopia, os dois se abraçam e eu voo ao sabor dos
movimentos daquela paixão.
Envaideço-me pensando ter contribuído para aquela história de amor. Serei
lembrada, talvez guardada entre as páginas de um livro.
De repente,
os dois entram por um portão, caminham por uma aleia sombreada, ladeada por
túmulos, entre os quais o casal se esconde, na quietude da manhã ensolarada, na
mansidão daquele jardim, onde apenas almas passeiam, invisíveis.
No calor dos
abraços, na fúria dos beijos e das carícias eu caio sobre uma lápide e ali me
deixam. “Aqui jaz Fulano de Tal – Saudades Eternas de Seus Filhos”.
Agora sei
para que sirvo.
Um comentário:
Muito bom ler e saber sobre seu 1º dia "de aula". Triste saber que esta realidade pouco mudou nas escolas que alfabetizam (entre outras). O elevador citado é uma excelente imagem do sistema público educacional do Brasil: velho, enferrujado, necessitando trocar, mudar, mas nada é feito...apesar do esforço de alguns professores, apenas uma minoria consegue ser atingida. Valeu Teca!
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