sábado, 7 de abril de 2012

O sacrifício da rosa


Rubra entre folhas verdes e espinhos, nasci rosa. Desabrochei na manhã fria, brilhei ao sol.
Eu nasci rosa porque escolhi assim, ou assim foi determinado? Por Deus ou pelo acaso? O que importa isso agora, se já estou aqui, rosa, nesta manhã fria, brilhando ao sol?
E nasci para quê?
Passa por mim a criança e não me nota. Passa o velho e me observa, admira e vai embora. Vem o moço enamorado e imagina que eu agradaria a sua amada. Tenta em vão me pegar, mas não alcança o galho.
Da sacada o observa a mulher madura. Compreende a intenção do moço e oferece-me. Bem sabe ela que é pra outra, certamente mais jovem. Mas eu estou ao alcance das mãos da mulher e a roseira lhe pertence, como parte do seu jardim.
Ela vai para dentro e volta com a tesoura. Corta meu galho, retira os espinhos e me entrega ao jovem. Lá vou eu, sem dor alguma. Somente a roseira sentiu o corte. Mas nada disse.
O jovem caminha apressado e para diante de uma casa, toca a campainha e aguarda. Aparece a moça e recebe-me das mãos do namorado. Ela procura meu perfume e sorri para ele. Beija-lhe a face e diz palavras gentis.
Seguem os dois abraçados e eu os acompanho, levada pela mão da jovem. Meu passeio não é tranquilo. Ela corre, rodopia, os dois se abraçam e eu voo ao sabor dos movimentos daquela paixão.
Envaideço-me pensando ter contribuído para aquela história de amor. Serei lembrada, talvez guardada entre as páginas de um livro.
De repente, os dois entram por um portão, caminham por uma aleia sombreada, ladeada por túmulos, entre os quais o casal se esconde, na quietude da manhã ensolarada, na mansidão daquele jardim, onde apenas almas passeiam, invisíveis.
No calor dos abraços, na fúria dos beijos e das carícias eu caio sobre uma lápide e ali me deixam. “Aqui jaz Fulano de Tal – Saudades Eternas de Seus Filhos”.
Agora sei para que sirvo. 

Um comentário:

Eliane disse...

Muito bom ler e saber sobre seu 1º dia "de aula". Triste saber que esta realidade pouco mudou nas escolas que alfabetizam (entre outras). O elevador citado é uma excelente imagem do sistema público educacional do Brasil: velho, enferrujado, necessitando trocar, mudar, mas nada é feito...apesar do esforço de alguns professores, apenas uma minoria consegue ser atingida. Valeu Teca!