segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Velhos

“O motorista parou no ponto e o sinal fechou. Perdemos o sinal por causa do velho. O velho demorou a entrar no ônibus, porque os degraus são muito altos e o velho carregava uma sacola cheia de compras. Eu estou em cima da hora! Por que esses velhos não ficam em casa, vendo televisão? Tem que sair pra fazer compras? Vamos ter que esperar quase três minutos até essa porcaria de sinal abrir de novo. Isso se não aparecer uma velha carregada para fazer companhia ao outro.”
Falava a moça, ao celular. E continuou:
“Depois ele demorou para passar na roleta, por causa do cartão que não funcionou. As sacolas pesadas atrapalhavam o movimento dos braços e tudo mais. O cobrador não ajudou e o velho quase caiu com o peso da tralha!”
 Ela falava sem inibição, pouco se importando com o fato de que o “velho” podia não ser tão surdo quanto ela devia imaginar e estaria ouvindo aqueles comentários tão cruéis.
Dentro do ônibus ninguém se manifestou. Nem eu. Todos silenciamos, fingindo não ouvir, compactuando com a impaciência, a arrogância, a intolerância, esquecendo-nos do mais banal: a velhice é o futuro de todos os que não morrerem jovens. Não há outra saída. Por mais que nos mantenhamos saudáveis, ativos e bem cuidados, quem nos garantirá contra a nossa própria decrepitude?

Mesmo o bebê mais festejado de nossa família está a caminho de ser apenas um velho, ou uma velha, se tiver a ventura de permanecer vivo por muitos anos. E sofrerá os efeitos do tempo inexorável.

Onde foi parar a pessoa que o velho foi? Por que não nos lembramos de toda sabedoria que está por trás dos tropeços e dos tremores?

Muitas vezes tratamos os idosos com uma falsa paciência, falamos com eles como se fossem crianças surdas e estúpidas, que precisam de vozes infantilizadas, as mesmas que usamos com bebês e cachorros. São velhos, são pessoas que já viveram mais! São mais experientes, com certeza. Carregam dentro de si um mundo de histórias, dores, amores, conquistas, derrotas e superações. Só não podem com o tempo. Nenhum de nós poderá.

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