sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

É pecado


Já ouvi dizer que para um casamento dar certo tem que ter quartos separados. Outros falam em camas separadas no mesmo quarto. Nelson Rodrigues falou em banheiros separados. Uns pregam a individualidade, existem aqueles que acham melhor viver o tempo todo em contato. Mas vamos lá, que obviamente eu pretendo defender alguma teoria. Uma teoria que não vai afetar a vida de ninguém, mas eu preciso. E não foi desenvolvida propriamente por mim. Vou contar.
Conheci uma linda senhora, uma verdadeira dama de oitenta anos. Nada parecida com uma doce velhinha ou uma vovozinha tricoteira. Nem tampouco dessas senhoras animadas que passam a noite em bingos clandestinos ou festas dançantes para terceira idade. Essa senhora é outro estilo; dona do mundo. Viaja para todo canto, desde que ficou viúva, há mais ou menos quatro anos. Segundo ela, a solução definitiva para um relacionamento feliz é radical: casas separadas e ele tendo, em sua própria casa, a sua própria esposa. Aí sim, podemos começar a ser felizes para sempre, até que a morte nos separe.
E desenvolve a teoria, de forma incontestável. A esposa fica com a sociedade, as heranças, as viagens com a família, Natal, aniversário da sogra. Leva de quebra as camisas sociais bem passadas, a cozinheira, as contas, a criadagem, as reuniões na escola, os cunhados e cunhadas, a insônia, a cara amassada no café, o mau humor e outros males mais prosaicos e menos confessáveis.
A partir daí, confesso que comecei a gostar muito da idéia e já me animei a praticar a milenar, abominável e terrivelmente pecaminosa arte do adultério assumido.
Eu, a amante, no caso, fico com encontros alegres, algumas flores, passeios em momentos inesperados, sexo em plena tarde, viagens “a trabalho”, reuniões que acabam tarde. Interessante? Bem, já que é uma tese defendida por uma pessoa tão encantadora, só me resta divulgar. Sei que vou ferir algumas suscetibilidades, mas é exatamente esse o meu maior prazer, no momento. Daqui para frente quem sabe terei outro?
Na teoria parece divertido, mas na prática tudo é mais complicado. Pena.

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