terça-feira, 18 de maio de 2010

Sinal Fechado

Andando depressa, de um a outro compromisso, encontro, almoço, horários apertados. As ruas cheias a essa hora, hora de andar de um lado ao outro, de um a outro compromisso. Todos também andando depressa. Seus caminhos se cruzam, nossos caminhos incompatíveis de impossibilidades físicas, de dois corpos não ocuparem o mesmo milímetro da calçada. Ônibus, barulhos, buzinas e tudo óbvio.
Assalta-me uma impaciência desconhecida. Quero andar depressa e fugir. Chegar logo e na verdade não chegar. Sumir no caminho sem notícias. Onde você estava? Eu? Por aí... fugindo da obrigação, da escola, das professoras, dos alunos. Fugir dos horários apertados, dos atrasos, dos prazos. Fugir das pessoas que me cobram, das que me esquecem, das que ligam, das que furam, das que me querem e das que desprezam meus quereres.
Fugir dos que me mandam passar, dos que pedem que eu pare, dos sinais fechados, dos taxis velhos, das caronas chatas, dos elevadores silenciosos, das conversas inconvenientes, de pessoas que não conheço e me olham, dos conhecidos que me olham e me estranham, que meu cabelo isso, que engordei ou emagreci.
Fugir das vitrines de roupas minúsculas, de sapatos altos que doem ao andar, dos panfletos, dos pedintes, dos mendigos jogados às traças, dos camelôs vendendo coisas feias, das pessoas feias comprando coisas baratas, das lojas de biscoitos e das Casa & Vídeo, das filas em lotéricas, de sonhos inúteis.
Correr dos funcionários com crachás correndo para o almoço, falando de chefes e colegas, de trapaças e de chatices, de estudar para concursos e de seguranças nos empregos.
Correr das cobranças de postura, de coerência e prudência, de boas maneiras e de conter impulsos, de engolir o choro e chorar os mortos que nem são meus.
E correndo eu ia da Voluntários à Paria de Botafogo. Calçadas sujas, cachorros que as usaram para banheiro e donos estúpidos que os deixaram por lá. Pessoas com cigarros, andando devagar, com os braços muito abertos e eu não conseguindo passar, e tenta por um lado, pelo outro e não vejo e de repente tudo permanecerá por um longo tempo parado. Um buraco, um bueiro quebrado, um pé torcido, imobilizado, tem que ficar com ele para cima, por causa da circulação. Remédios para dor, repouso, arranhões e adeus a toda a pressa.
Finalmente fugi, ainda que não exatamente para onde desejava.

Um comentário:

Anônimo disse...

olá! as melhoras do pezito. beijos e bom Domingo!