segunda-feira, 13 de julho de 2009

Punição


Eu vou dar a minha aula aqui e, mesmo que ela seja desinteressante e patéticamente desnecessária, você vai prestar atenção e ficar quietinho porque senão eu vou te reprovar. Vou te dar zero e você vai repetir de ano!
Fomos criados sob as leis de um Deus muito violento e punitivo, um Pai muito mal, que só pensa em nos criar tropeços e embaraços. Nascemos e logo começamos a sofrer. Verdade?
Mentira. Nascemos e logo começamos a nos punir. Cedo nos embrenhamos no matagal da dor, da culpa, do peso. Negamos a nós mesmos a leveza, a alegria. Tudo é difícil e conturbado. Quem é feliz, deve ser louco. E agora chegamos ao grau máximo da punição, pois estamos vendo o nosso planeta se tornar uma casa cheia de perigos. Aliás, no começo era assim. A chuva, os ventos, os raios, o sol inclemente. E nós pequeninos seres indefesos, vivíamos assutados. Parece que agora Deus, esse Pai malvadão, está querendo nos expulsar de casa.
Mas, estudando em pouco do que os nossos mestres têm nos revelado, e digo pouco mesmo, percebemos que tudo está dentro de um maravilhoso plano de evolução. O Universo, esse grande pensamento organizado por esta grande Mente, caminha num contínuo evoluir. Mundos passam de um para outro estágio, até que seus recursos se esgotem assim como nossos perecíveis corpos se desfazem no pó da renovação eterna. Uma vez criados, só há um caminho: evoluir. A nossa Terra está numa fase grave de final de ciclo e isso já vem sendo anunciado há séculos. Não há punição. Nossas fumaças fedorentas importam muito menos para a ecologia do que nossos pensamentos purulentos. O que precisa ser expulso do planeta não são nossas fábricas e confortos. São nossas misérias: o egoísmo, a vaidade, o desamor, o orgulho.
Deus, enfim, não está nos punindo com o temido fim do mundo. O mundo está caminhando, porque tudo o que existe caminha. Vai junto com o carro da evolução quem já entendeu. Não dá pra pegar carona. Tem que embarcar com bilhete comprado, na luta da superação de nossas próprias inferioridades.
E o que tem isso com a aula chata da professora? É que , na escola, nós estamos ainda muito presos aos conceitos de punição. Não conseguimos ver os alunos como seres em desenvolvimento a quem devemos apoiar e mostrar caminhos. Precisamos de instrumentos de repressão que os façam dóceis às nossas idéias equivocadas, nossas aulas chatas, nossos horários aleatórios, ao nosso desencanto e aos nossos baixíssimos salários. E o caldeirão está fervendo. A tampa está pulando e muito no já já a coisa vai derramar. Já está derramando.
Estamos perdidos e cansados. De repente os alunos parece que pararam de se importar com as notas e, pior, a escola resolveu acabar com esse instrumento de tortura. Criaram-se outros meios de avaliação e de promoção. Loucura total. O que valia não vale mais. Polêmica nos jornais.
Vamos ter que pensar.

Nenhum comentário: